segunda-feira, 8 de setembro de 2014

MARINA: A TERCEIRA VIA BRASILEIRA

A terceira via ao estado de bem-estar social e ao neoliberalismo surgiu na Europa, tentou reconciliar direita e esquerda, com políticas econômicas ortodoxas e políticas sociais progressistas. Na década de 1990, a terceira via ganhou espaço com Blair na Inglaterra e Clinton nos EUA. Entretanto, já no início dos anos 2000 perdeu espaço nos EUA e na Inglaterra quando Blair sofreu forte pressão da mídia e da opinião pública. A terceira via foi arrasada nas urnas. Ressalto que a meu ver, a decadência se explica: a terceira via foi o desespero diante da ineficácia do neoliberalismo para atingir seus objetivos e a ineficiência do Welfare State quanto à organização da economia e recursos. É necessário saber que eficácia e eficiência são conceitos que saíram dos modelos de gestão privada (das empresas) e foram adotados ao novo modelo de gestão pública da década de 1990. Este modelo gerencial da gestão pública fazia parte da reforma do Estado que foi o norte da terceira via. Ao tratar do Brasil, primeiro deixo claro que não considero o governo FHC como precursor da terceira via no Brasil, mas instaurador-mor do neoliberalismo no país. Já as propostas da terceira via europeia eram vagas e imprecisas (qualquer semelhança com Marina não é mera coincidência). Também houve um abismo entre discurso e a prática, principalmente no que se refere à participação popular e a falta de coerência (qualquer semelhança com Marina não é mera coincidência). Giddens (p.30) afirmava naquela época que “uma minoria considerável já não vota e está essencialmente fora do processo político. O partido que mais cresceu ao longo dos últimos anos não é parte da política em absoluto: o ‘não-partido dos não-votantes”. A conjuntura inglesa vivida por Giddens foi parecida com a conjuntura brasileira atual: desilusão com a política, necessidade de uma “nova política” e crescimento da negação da política. Em resumo, a “nova política” de Marina não tem nada de novo. Sua força está na emoção do momento e não na razão de um programa de governo de 4 anos. Para Marina governar, terá que atender contraditoriamente aos interesses de banqueiros e do agronegócio. Assim como a terceira via, a “nova política” de Marina representa emocionalmente o distanciamento de tudo que há de ruim na política. Entretanto na prática, a candidata recebe investimento privado como todos os outros e tem como vice um representante do agronegócio. Inclusive, caso seja eleita e opte por defender suas ideias, terá que enfrentar o seu vice para ser sustentável e frear o agronegócio. Marina é excelente pessoa, assim como há outros candidatos que também são. Todavia, não se trata da pessoa, mas do projeto.Nem o Papa Francisco com toda a sua moral, resolverá a corrupção no Brasil sem reforma política. Até o Papa teria que ter um projeto para o Brasil. Sem reforma política, Marina terá que enfrentar diversos escândalos de corrupção que cairão sob suas costas. Sem partido, sem satisfazer os interesses dos banqueiros, do agronegócio e empresas que a financiaram, devemos ficar atentos para o seu vice que é quem pode acabar terminando o mandato. Qualquer semelhança não será mera coincidência. Fonte: A Terceira Via – Anthony Gidden

Nenhum comentário:

Postar um comentário